DE TODO PROSA
Sergio Rodrigues
O Twitter, quem diria, pariu uma obra-prima: ‘Caixa preta’
Quem ainda não leu pode acessar o conjunto inteiro (em inglês) no site da revista. Ou acompanhar a tradução, “Caixa preta”, que a editora Intrínseca publicará a partir desta segunda-feira, dia 20, até o dia 30, sempre das 22h às 23h, em sua conta no Twitter (@intrinseca). Ao fim desse prazo, a narrativa completa será lançada como e-book. A iniciativa é oportuna: uma “Caixa preta” basta para redimir quaisquer “Cinquenta (ou até mais) tons de cinza”.
Na Flip deste ano, em que dividiu uma mesa com Egan, o escritor inglês Ian McEwan não mediu elogios a Black box: “É uma das melhores coisas que leio em anos”. Os espectadores que não conheciam o texto podem ter pensado que o autor de “Serena” estava apenas exercitando uma gentileza de veterano com sua companheira de palestra, que além de escritora menos consagrada é uma mulher bonita.
Errado. McEwan não fez favor algum a “Caixa preta”, um folhetim cibernético que alia o entretenimento de uma estupenda história de espionagem (com laivos de ficção científica) a um tour de force formal. O rigor quase maníaco no tratamento da linguagem – com o uso nada gratuito da narração em segunda pessoa, que em “A visita cruel do tempo” tinha sido menos bem sucedido – reenergiza a arte narrativa em vez de debilitá-la. Como deve ser, mas raramente é.
Recomendado especialmente a quem perdeu tempo com a recente “polêmica” Paulo Coelho/James Joyce. A provocação sobre o “Ulisses” caber num tweet – que alguns escritores tratam hoje na “Folha de S.Paulo” com sábio espírito de gozação – revela toda a sua profundidade de jogada de marketing diante do que Jennifer Egan faz caber numa série deles.