terça-feira, 30 de junho de 2009



Pai de Snoopy "fazia tudo à moda antiga", diz viúva
Nos 60 anos de Charlie Brown,charles Schulz fará exposição no Brasil

"Schulz era um artesão que sabia deixar interessante uma tira em que, na verdade, não acontecia nada", diz Jeannie Schulz

CLARICE CARDOSO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Snoopy, Charlie Brown e companhia passaram por uma longa jornada juntos e hoje, aos 60 anos de idade, têm suas histórias à venda até no iTunes. Caminho inimaginável para seu criador, o americano Charles Schulz (1922-2000). Estreou em outubro de 1950 as tirinhas "Peanuts" em sete jornais. Hoje, elas são publicadas em 75 países, lidas por 330 milhões de leitores e ganham de aniversário uma exposição e um musical (leia abaixo).
"Um mundo em que você pode ter Charlie Brown dançando no seu celular seria incompreensível para ele, que não teve nem computador", diz a viúva de Schulz, Jeannie, 70, em entrevista à Folha.
Essa realidade fica ainda mais distante quando se pensa que era um homem que "fazia tudo à moda antiga", completa Jeannie. Todos os dias, ia para o estúdio das 9h às 16h e trabalhava no mesmo lugar.
Lá, traçava à mão cada linha -ele próprio desenhou as tiras até morrer de complicações de um câncer de cólon, um dia antes de sua última tira dominical ser publicada.
A turma de Charlie Brown teve início um pouco antes de 1950, quando o cartunista, conhecido como Sparky, tentava emplacar sua carreira com as tiras dos Coleguinhas ("Li'l Folks", em inglês). Foi quando vendeu a tira para a United Feature Syndicate, que a rebatizou para "Peanuts", um título de que ele nunca gostou muito.
Schulz raramente refazia uma linha. Desenhava primeiro um rascunho leve que mal se via (às vezes, nem tinha de ser apagado depois)."Parecia que as ideias saíam de sua cabeça, passavam pelo braço e chegavam à mão e ao lápis. Para desenhar uma emoção, precisava senti-la. Então, esperava sentir a tristeza de Linus quando perdia seu cobertor, por exemplo", conta.
A velocidade com que o cartunista desenhava era outra característica que impressionava Jeannie, casada com o artista desde 1973. "Ficou mais rápido conforme os personagens evoluíam. As tiras dos anos 50 eram mais detalhadas do que as dos anos 90. Acho que os personagens passaram a significar algo por si e não precisavam mais do cenário."

Exposição no Brasil
Não raro, Schulz se valia de seus personagens para expressar suas emoções e fatos de sua vida. O próprio Snoopy foi inspirado num cão que teve quando criança.
"Acho que era um tanto exaustivo emocionalmente, mas era o que as fazia autobiográficas. Cada personagem era um pedaço seu."
Hoje, Jeannie trabalha no Museu Charles M. Schulz, em Santa Rosa, Califórnia, que como parte das comemorações dos 60 anos, enviará ao Brasil cópias de tiras históricas que serão expostas em lugares ainda não definidos (provavelmente em shoppings).
"Preparamos uma aula de história para falar das origens das tiras, da importância das HQs e de como Schulz era um artesão que sabia deixar interessante uma tira em que, na verdade, não acontecia nada."

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Ismail Kadaré, de "Abril Despedaçado", vence o Príncipe das Astúrias das Letras

Posto aqui a nota do UOL sobre o premio.

Kadare é um escritor da melhor qualidade, consegue falar de um pais Isolado como a Albania sem cair no Regionalismo deslumbrado.
Alem disso, é um profundo amante da literatura, como mostra a entrevista a seguir.



Ismail Kadaré, de "Abril Despedaçado", vence o Príncipe das Astúrias das Letras

O escritor Ismail Kadaré em Paris

"LITERATURA DEVE TER CASTAS", DIZ ISMAIL KADARÉ
MADRI, Espanha, 24 Jun 2009 (AFP) - O escritor albanês Ismail Kadaré foi anunciado nesta quarta-feira (24) como o vencedor do prêmio Príncipe das Astúrias das Letras de 2009. Entre os finalistas estavam o holandês Cees Nooteboom, o italiano Antonio Tabucchi, o tcheco Milan Kundera e o britânico Ian McEwan.

As obras de Kadaré, grande estudioso da tradição albanesa e da idiossincrasia deste povo dos Bálcãs, já foram traduzidas para mais de de 40 idiomas.

Seu livro "Abril Despedaçado" foi adaptado para o cinema pelo diretor brasileiro Walter Salles.

Os prêmios Príncipe das Astúrias são concedidos pela fundação que leva o nome do príncipe Felipe, herdeiro da coroa da Espanha, e a cada ano premiam oito pessoas ou instituições nas seguintes áreas: artes, cooperação internacional, concórdia, ciências sociais, comunicação e humanidades, esportes, pesquisa científica e técnica e letras.


Folha - O sr. costuma dizer que sua formação literária caminha entre Macbeth e Dom Quixote. Como define essa mistura?
Ismail Kadaré - Trata-se sempre de caminhar entre o trágico e o grotesco. É um bom coquetel. A literatura precisa dos dois. Na vida é a mesma coisa, ainda que nem tudo que está na vida precise estar na literatura. A literatura é mais importante do que a vida.

Folha - Vários paralelos foram feitos comparando a sua literatura ao realismo mágico latino-americano. O sr. concorda com a aproximação?
Ismail Kadaré - Não sei, me parece um pouco ingênuo. Dante Alighieri fazia uma espécie de realismo mágico, Kafka e a mitologia grega também. Não sei por que essa denominação ganhou tanta força. O lado irrealista faz parte da literatura. Ela não pode nem mesmo existir sem essa dimensão transcendental, mágica, onírica, oculta.

Folha - Cabe aos grandes escritores juntar realidade e irrealidade?
Ismail Kadaré - Os escritores são uma raça à parte. A literatura não é democrática. Ela é baseada na desigualdade. Se você escutar que a França tem mil escritores, isso não é boa notícia. Esse número precisa diminuir. A literatura é baseada numa seleção sem piedade, que guarda o grande valor. Até aceito a literatura medíocre ou média pois ela cumpre uma função, atrai e garante leitores que um dia poderão ir em direção à grande literatura. O perigo começa quando a literatura mediana quer impor suas leis. É preciso que esses universos fiquem bem separados, sem intervir um no outro, como castas.

Folha - A Europa ocidental ainda vê os Bálcãs como um incômodo, como um problema a resolver?
Ismail Kadaré - Acho que sim, embora o interesse da Europa pelos Bálcãs venha crescendo. Os Bálcãs são uma realidade. É uma parte incômoda, mas é uma parte. Dizemos que é o quintal da Europa, mas o quintal é parte da casa. Sem tranqüilidade nos Bálcãs não há tranqüilidade para a Europa.

Folha - O sr. é favorável à entrada da Albânia na União Européia?
Ismail Kadaré - Sim. É a única esperança para que os Bálcãs entrem numa via de desenvolvimento normal. Ironicamente, o povo mais pró-europeu e ao mesmo tempo mais pró-americano são os albaneses. É curioso, porque era o povo mais stalinista. Há uma lógica interna para isso. Passamos de um extremo a outro, como uma reação.

Folha - E como foi a questão da dissidência ao regime no seu caso?
Ismail Kadaré - Na Albânia não se podia ser publicamente contra o regime, era totalitarismo absoluto. Mas pela literatura era possível contestar o regime. Tudo que escrevi e publiquei foi feito nesse contexto. Nunca fiz ataques diretos ao Estado, somente ironias escondidas, um pouco mais evidentes às vezes. Quando me perguntam se sou um dissidente digo não. Sou um escritor normal, num país anormal. E isso já é muito.

Folha- Mas o sr. teve um período de apoio ao regime, não?
Ismail Kadaré - Desde o começo tive reservas ao regime, ainda que elas não fossem tão conscientes. Se você ama a literatura, não pode amar o regime comunista. Não pode amar ao mesmo tempo Macbeth e a direção do comitê central de Stalin.

Folha - Muitos dos seus livros abordam o Império Otomano. Podemos comparar o imperialismo americano atual aos impérios clássicos?
Ismail Kadaré - O Império Otomano era atroz, sem aspectos positivos. Eu recuso essa comparação. Essa moda de chamar os EUA de império é um vestígio da Guerra Fria. A base da propaganda stalinista era buzinar "imperialismo americano" nas nossas orelhas. Na França, ouço a mesma propaganda tantos anos depois. É uma paixão exagerada. Os EUA são uma grande potência e, como toda grande potência, eles têm o bem e o mal em grandes proporções. Mas a moda me soa retrógrada.

Folha - O que achou da escolha de Le Clézio para o Nobel de Literatura?
Ismail Kadaré - Conheço este escritor, sei que é sério. Mas li seu primeiro livro há muitos anos e quase nada depois. Confesso que não me apaixonei. Sei que ele é respeitado na França, mas sem ardência. Enfim, o Nobel faz suas escolhas.

Folha - O sr. poderia falar um pouco sobre "Crônica na Pedra"?
Ismail Kadaré - É um livro sobre a Albânia, mas também sobre a guerra, a saída do narrador da infância, sobre tradições. Prefiro que os leitores descubram por si próprios.

domingo, 21 de junho de 2009

NEKROPOLIS


Geração vem, geração vai e o teatro “engajado" parece não mudar.

Nekrópolis, montagem da turma de formação 2009 da ELT Santo Andre,com texto de Roberto Alvim e direção de Gustavo Kurlat, traz o tema, tantas vezes abordado nas artes, da rebelião dos cidadãos da polis contra o líder déspota.

Montada na forma de julgamento em algumas audiências de integrantes de uma milícia, a tal ESTIRPE, por órgão de um suposto estado ditatorial, ela tenta fazer um paralelo das ações do grupo acusado de terrorista com o ato da personagem grega que, sob pena de morte, enterra o irmão punido a não ter um enterro pelo tirano rei passando por cima da proibição e sendo presa no momento do ato.

A peça é alternada por números de dança e canto, e tem toda pinta de musical , nesse sentido não faz feio.
Com boas performances e ótimas representações pelo numeroso grupo, mais ou menos vinte integrantes, o espetáculo enche os olhos. e faz notar um grande cuidado nas marcações cênicas, além de coreografias bem elaboradas.

Entre algumas das ações da milícia está o ato de desenterrar pessoas que foram mortas pelo estado por pertencerem ao grupo e exibi-las em um Shopping Center. Mesmo corpos de cidadãos comuns são violados expostos em praça - publica , como do caso de uma senhora de idade avançada que trabalhou por muitos anos em uma fabrica e morreu soterrada.
Referencias criticas ao governo Lula e até diretamente as ex-secretaria de cultura do estado, Claudia Costin são feitas em tom arrogante de cobrança por terem “ traído” seus idéias socialistas e militantes.

Sendo assim, como analisar “Necrópoles”, uma peça que tenta trazer hoje a discussão do papel da população frente as injustiças do Estado.?
.
Por centenas de anos, indivíduos privados de erudição, ou que simplesmente não sabiam ler, tinham a oportunidade de ver toda a podridão do “cosmos” político representado no palco. Como temos visto muitas vezes, das tragédias gregas ao teatro Brechtiano, o tema da Polis desvirtuada tem tido uma grande importância estética e, é claro, social

Ninguém há de negar que essa foi uma das maiores contribuições do teatro e da arte ao que chamamos hoje de cidadania, termo um pouco gasto pelos populistas de plantão
Mas Nekrópolis peca justamente por essa ânsia de pedagogia militante, esse proselitismo ideológico tão pernicioso a arte, em muitos momentos, parece chamar o publico de ignorante e desinformado.

A todo o momento somos lembrados de quem são os mocinhos e como eles vêm de profissões e atividades nobres como trabalho em projetos sociais. Suas falas sempre são fortes e diretas,como a verdade deve ser, enquanto isso, os representantes do estado e os juristas que acusam a Estirpe de terrorismo parecem candidatos eleitorais, empolados e ocos.
Não parece haver duvida de que a milícia esteja fazendo a coisa certa, mesmo que isso choque outros cidadãos e a opinião publica. Em nenhum momento o grupo questiona suas convicções ideológicas.



Esquece-se de falar dos governos antidemocráticos e dos regimes totalitários como das ditaduras Latino Americanas no qual o grupo claramente se inspira e que ainda fazem a cabeça de muito jovem “alienado”.

Nekropolis perde uma grande oportunidade de falar de questões tão vitais como o nepotismo dos nosso políticos munidos de imunidade parlamentar e que “ se lixam” para o opinião publica

Nekrópole, montagem da turma de formação 2009 da ELT


Geração vem, geração vai e o teatro “engajado" parece não mudar.

Geração vem, geração vai e o teatro “engajado" parece não mudar.

Nekrópolis, montagem da turma de formação 2009 da ELT Santo Andre,com texto de Roberto Alvim e direção de Gustavo Kurlat, traz o tema, tantas vezes abordado nas artes, da rebelião dos cidadãos da polis contra o líder déspota.

Montada na forma de julgamento em algumas audiências de integrantes de uma milícia, a tal ESTIRPE, por órgão de um suposto estado ditatorial, ela tenta fazer um paralelo das ações do grupo acusado de terrorista com o ato da personagem grega que, sob pena de morte, enterra o irmão punido a não ter um enterro pelo tirano rei passando por cima da proibição e sendo presa no momento do ato.

A peça é alternada por números de dança e canto, e tem toda pinta de musical , nesse sentido não faz feio.
Com boas performances e ótimas representações pelo numeroso grupo, mais ou menos vinte integrantes, o espetáculo enche os olhos. e faz notar um grande cuidado nas marcações cênicas, além de coreografias bem elaboradas.

Entre algumas das ações da milícia está o ato de desenterrar pessoas que foram mortas pelo estado por pertencerem ao grupo e exibi-las em um Shopping Center. Mesmo corpos de cidadãos comuns são violados expostos em praça - publica , como do caso de uma senhora de idade avançada que trabalhou por muitos anos em uma fabrica e morreu soterrada.
Referencias criticas ao governo Lula e até diretamente as ex-secretaria de cultura do estado, Claudia Costin são feitas em tom arrogante de cobrança por terem “ traído” seus idéias socialistas e militantes.

Sendo assim, como analisar “Necrópoles”, uma peça que tenta trazer hoje a discussão do papel da população frente as injustiças do Estado.?
.
Por centenas de anos, indivíduos privados de erudição, ou que simplesmente não sabiam ler, tinham a oportunidade de ver toda a podridão do “cosmos” político representado no palco. Como temos visto muitas vezes, das tragédias gregas ao teatro Brechtiano, o tema da Polis desvirtuada tem tido uma grande importância estética e, é claro, social

Ninguém há de negar que essa foi uma das maiores contribuições do teatro e da arte ao que chamamos hoje de cidadania, termo um pouco gasto pelos populistas de plantão
Mas Nekrópolis peca justamente por essa ânsia de pedagogia militante, esse proselitismo ideológico tão pernicioso a arte, em muitos momentos, parece chamar o publico de ignorante e desinformado.

A todo o momento somos lembrados de quem são os mocinhos e como eles vêm de profissões e atividades nobres como trabalho em projetos sociais. Suas falas sempre são fortes e diretas,como a verdade deve ser, enquanto isso, os representantes do estado e os juristas que acusam a Estirpe de terrorismo parecem candidatos eleitorais, empolados e ocos.
Não parece haver duvida de que a milícia esteja fazendo a coisa certa, mesmo que isso choque outros cidadãos e a opinião publica. Em nenhum momento o grupo questiona suas convicções ideológicas.


Esquece-se de falar dos governos antidemocráticos e dos regimes totalitários como das ditaduras Latino Americanas no qual o grupo claramente se inspira e que ainda fazem a cabeça de muito jovem “alienado”.

Nekropolis perde uma grande oportunidade de falar de questões tão vitais como o nepotismo dos nosso políticos munidos de imunidade parlamentar e que “ se lixam” para o opinião publica.


Por Jimmy Avila
estantedojimmy.blogspot.com

Novo livro do Steiner


My Unwritten Books




Comecei a ler essa recente edição de ensaios do Steiner e ela fica melhor a cada pagina virada.

Tratasse de um livro que fala dos livros que ele gostaria de escrever( come sugere o titulo). Livros que falariam de assuntos inusitados para alguém com Steiner.

" A língua de Eros", por exemplo, versa, veja so, sobre as expressões verbais que mulheres de diferentes países emitem no ato sexual. Quem achava que Higth Schollars nao conhecem as coisas boas da vida vai ter uma grande surpresa!

Menos " sensacionalista" é o ensaio intitulado de ZION, ( que qualquer fã de matrix sabe que significa SIAO a cidade sagrada, mas conhecida por Jerusalém) que , entre outras coisas, retoma a reflexão sobre identidade judaica e ligação indistinguível dela com Israel.

Ao todo, são sete ensaios-livro ( que numero mais sugestivo, nao?) que compõe um dos melhores trabalhos do grande humanista.

Ao longo desse tópico irei passando minhas impressões sobre o livro, alem de comentar resenhas ou noticias sobre seu possível tradução.

21 de Junho de 2009 02:09

terça-feira, 9 de junho de 2009



"Spock Obama" gera ruptura cultural


Fã de "Star Trek" e de séries como "Entourage", presidente causa na sociedade impacto maior que o de seus antecessores Pensadores se dedicam a estudar influência do líder dos EUA, que atrai jovens e deixa para trás a era da tortura na televisão
SÉRGIO DÁVILADE WASHINGTON
Há algumas semanas, Barack Obama pediu à Motion Picture Association (MPA) que enviasse uma cópia do novo "Star Trek" para ele ver na sala de exibição da Casa Branca.Espécie de Fiesp dos grandes estúdios norte-americanos, a MPA abastece a tela presidencial desde que Franklin Delano Roosevelt (1882-1945) teve a ideia de transformar um closet de casacos em um minicinema com 40 lugares, nos anos 30.Obama achou "muito bom" o mais recente capítulo cinematográfico da cultuada série de TV dos anos 60, segundo disse depois à revista "Newsweek". Indagado sobre o motivo da escolha, o democrata foi direto: "Todo o mundo estava dizendo que eu sou o Spock, então achei que eu deveria checar".Na sequência, parou e fez a saudação popularizada pelo ator Leonard Nimoy na pele do personagem metade vulcaniano, metade humano, em que ele separa os dedos médio e anelar da mão direita. Obama se referia à comparação feita, entre outros, pela revista eletrônica "Slate" e por Maureen Dowd, do "New York Times", entre o personagem e o presidente (leia ao lado).A chegada de Barack Obama, 48, à Casa Branca marca não só uma mudança de geração no comando do país mas também um novo universo cultural. Na época em que seus antecessores Bill Clinton e George W. Bush, ambos de 62 anos, eram pós-adolescentes e respectivamente protestavam contra ou fugiam da Guerra do Vietnã, o atual presidente era uma criança que via "Star Trek" na TV.Não só Obama sabe quem é Spock e sua saudação como admite a influência da série em sua formação. Como muitos de sua geração, o democrata diz que o que o adulto reteve da experiência de criança foi a mensagem pacifista e multilateral do programa, ao fazer da Federação Unida dos Planetas uma metáfora para a Organização das Nações Unidas (ONU)."Fã-em-chefe"Essa troca de guarda cultural foi registrada e vem sendo discutida por colunistas, professores universitários e pensadores, gente como Henry Jenkins, codiretor do programa de estudos comparativos de mídia do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT)."Obama já foi chamado de o "fã-em-chefe'", disse Jenkins à Folha. "Todos os presidentes americanos têm um impacto na cultura popular, pois eles ajudam a dar o tom do país. Mas o de Obama deve ser especialmente mais forte porque ele teve um nível de apoio intenso nas indústrias chamadas criativas e atraiu muito interesse dos jovens, que são o público-alvo mais cobiçado entre aqueles que produzem cultura.""Como todos os presidentes, ele é uma celebridade", concorda Robert Thompson, professor de cultura pop da Universidade de Syracuse, no Estado de Nova York, falando à reportagem. "Mas é mais: é uma celebridade como as de Hollywood, no sentido de que dita moda em termos de gostos culturais e de que nos faz querer saber o que ele lê, ouve, assiste."Nos pouco mais de quatro meses em que está no poder, o presidente foi a dois espetáculos de temática negra: uma apresentação da companhia de dança Alvin Ailey, que passava por Washington, e uma peça na Broadway, "Joe Turner's Come and Gone", de August Wilson, sobre descendentes de escravos que migram do Sul.Mas disse que gosta de assistir a "Entourage", a série do canal pago HBO sobre um ator de Hollywood e seu grupo de amigos brancos, citou num evento público a série "Gossip Girl", uma espécie de "Sex and The City" adolescente, foi o segundo presidente no cargo a dar entrevista para um talk-show e gravou um comentário bem-humorado sobre a mudança de Jay Leno para Conan O"Brien no comando do programa "Tonight Show", na NBC."Agora seremos obrigados a discutir "Entourage'", disse Thompson, referindo-se à importância agregada a um produto cultural ao receber o "apoio" presidencial. Isso pôde ser sentido depois da entrevista à "Newsweek", em que Obama disse estar lendo "Netherland", de Joseph O"Neill, uma das melhores ficções do ano passado, sobre um casal de exilados na Nova York pós-11 de Setembro.Nas horas seguintes, as vendas do livro dispararam na Amazon e fizeram a editora apressar o lançamento da edição de bolso. "Ele é o presidente da internet, o presidente BlackBerry e, agora, o presidente HBO", disse Thompson.Presidente iPodEle já foi chamado também de "o presidente iPod", ao revelar o que ouvia no seu aparelho. Conforme novas músicas vão vazando, percebe-se uma certa constância de rappers como Jay Z e Ludacris, o que levou estudiosos a discutirem o efeito que a chancela da Casa Branca terá num gênero musical originalmente de protesto.No outono americano, acredita Jenkins, do MIT, essa influência poderá começar a ser vista também em filmes e programas de TV. "É difícil saber de que maneira", diz o estudioso. "Mas será uma ruptura em relação a Bush, cujo maior impacto pode ter sido a persistência da tortura como tema na cultura popular americana, de filmes de horror como "Saw" a sua celebração em "24"."

sábado, 6 de junho de 2009

Breve do LOBO ANTUNES

Senhor começou a escrever quando era menino?

Minha mãe tinha me ensinado a ler. Com 4 anos, tive uma tuberculose e tinha que ficar numa cama. Comecei a escrever, e fazia sentido. Por volta dos 14 anos, você começa a entender que há uma diferença entre escrever bem e escrever mal, então começa a angústia. Depois, por volta dos 17, 18 anos, você entende que há uma diferença ainda maior entre escrever bem e obra-prima, e aí a angústia é total.