quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Será que Poetas lêem pouco?




Será que Poetas lêem pouco?


Qual seria a o propósito de um questionamento nesse sentido para o debate literário no Brasil.?

Essa não é um libelo contra os poetas, mas sobre um fenômeno contemporâneo que tem chamado muita atenção entre quem ama literatura e faz disso uma das coisas importantes da vida.

Sabemos que para muitas pessoas, incluso artistas e poetas, essa questão pode não ter a menor importância, nem mesmo como curiosidade. A elas, reservamos o total direito de não levarem o assunto em consideração, Alheando-se a uma discussão que “nada tem a ver com a criação poética”.

Mas, por outro lado, seja como leitor inveterado ou escritor, para pessoas que tem a literatura como parte indispensável de suas vidas essa é uma pergunta de grande interesse.

A questão parte do convívio quase diário com poetas com uma produção significativa de longos anos, alguns inclusive ganhadores de um prêmios. Além de reconhecidos por seus pares.

Indo direto ao ponto, o fato é que, curiosamente, muitos dos poetas, ou que se afirmam como tal, (essa distinção será cuidadosamente observada aqui) que pipocam a todo momento em diverso meios, não só artísticos, revelam explicitamente falta de repertorio mínimo no campo da literatura e até, surpreendentemente, em seu próprio metier a poesia.

De cara, dois questionamentos bem destintos se impõem:

Uma pessoa é poeta simplesmente por se afirmar assim?
O poeta tem obrigação de ler outros escritores?

Hoje em dia, do Advogado ao artista plástico, passando pelo jovem estudante colegial, todo mundo faz alguns versinhos, todos tem alguma poesia para mostrar e a maioria não tem o menor duvida em se apresentar como poeta.
Evidentemente não são dessas doces e sensíveis pessoas, que algumas vezes só procuram reencantar suas vidas, que precisamos de saber o porquê de tal disparate.

A segunda pergunta tem um peso maior para o nosso propósito e esta diretamente relacionada questão principal, é daí que surgem diretamente as vozes dos poetas.

“ Minha poesia vem da minha experiência de vida, do cotidiano”
“ Escrevo a partir da minha vivencia pessoal, não me interessa a visão dos outros”
“ Não leio para não me influenciar”

São algumas das não raras frases que se pode ouvir de parte dos milhares de poetas que freqüentam as dezenas de saraus de São Paulo, hoje o estado que sedia alguns dos mais populares do Brasil.

Sem entrar no mérito profundo da questão, pode-se dizer, no mínimo, que essa é uma postura claramente indiferente que serve de desculpa para ignorar toda tradição literária,que se consolidou ao longo de milênios, única e exclusivamente por mérito estético.
Uma fonte de matéria-prima artística resultante de vidas e experiências incontáveis, tão nossas como qualquer outra coisa.

E claro que não se trata de extirpar o espontaneismo da poesia, não se pode negar o caráter intuitivo ou instintivo da arte tantas vezes reverenciado nos manifestos como o Surrealismo, dos escritos de Kandinky ou da literatura Beat., entre dezenas de outros exemplos.

Mesmo neste texto que escrevo a intuição tem papel fundamental, pois parte de uma impressão meramente empírica e que não é resultado de leitura alguma que eu tenha feito nos últimos tempos, além disso não consulto nenhum livro ou artigo para me auxiliar nesse momento.
Porem, não posso negar que tal reflexão só poderia ter sido desencadeada pelo fato de dispor de um conhecimento embasado no imaginário literário e não só em minhas experiências.


Tudo isso para dizer que,na pratica, parece revelar o real motivo da gritante falta de leitura entre muitos poetas é, não o anseio a originalidade ou a criação artística autoral e de forte cunho pessoal, mas, esse éo ponto, a “ Persona de Poeta” , a caracterização de um anônimo em “ artista”, em um ser diferenciado.

Todo mundo sabe o prestigio, pouco que seja que alguém que se envolve com algum ramo da literatura ou da cultura goza nos círculos sociais. Em casos mais extremos poder-se-ia apontar em investidas como essa uma carência de auto-estima ou um mero clamor por popularidade fácil.

O status advindo da Persona de Poeta induz ao aumento da auto- estima e a sensação de estar participando de um circulo – restrito de notáveis , pois, não podemos esquecer, nem todo o planeta virou poeta!


.Se assim for, resta aos colegas de tão importante esforço que se deixam tomar pelo olhar sublimado e devastado sobre a vida que a literatura lança para mundo

2 comentários:

  1. Gosto da sua objetividade. Ela te torna ainda mais original.
    Arte e status irão confunfir-se por todo o decorrer da história das artes. Sua utilização indigna é uma pecado contra os mestres.

    Carlos.

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  2. Muito obrigado Carlinhos.

    Voce tem razao, arte e celebridade sempre flertaram. Hoje com a cultura midiatica descartavel isso virou uma paTOLOGIA!

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Obrigado pelo comentario!