sexta-feira, 24 de abril de 2009

FUNDAMENTAL PARA A COMPREENSÃO DA CULTURA DE MASSAS, LIVRO DE KRACAUER SAI PELA PRIMEIRA VEZ NO PAÍS




O ornamento da massa traz ensaios sobre dança, cinema e outras manifestações culturais; textos saíram em jornal alemão nos anos 1920
“O lugar que uma época ocupa no processo histórico pode ser determinado de modo muito mais pertinente a partir da análise de suas discretas manifestações de superfície do que dos juízos da época sobre si mesma”, escrevia no jornal Frankfurter Zeitung o pensador alemão Siegfried Kracauer (1889 - 1966). A frase, retirada de artigo publicado em 1927, explicita a ênfase que Kracauer deu em seus estudos sobre cultura; optou, ainda no começo do século XX, por analisar as manifestações da cultura de massa, quando o tema ainda não era contemplado por intelectuais. Fotografia, cinema, romances policiais e biografias são exemplos de áreas de que se ocupou. Não é à toa que o título deste artigo deu nome à edição que o autor organizou em 1963, em exílio nos Estados Unidos, a partir de uma seleção de seus textos: O ornamento da massa, que a Cosac Naify publica agora, pela primeira vez no Brasil, na coleção Cinema, Teatro e Modernidade, coordenada por Ismail Xavier.
• Leia o capítulo "Sobre livros de sucesso eseu público"Ismail Xavier fala sobre a coleção Cinema, Teatro e Modernidade O ornamento da massa, de Siegfried KracauerR$ 69Veja detalhes do livro e compre neste site
Pensador de relevância comparada à de Theodor Adorno ou Walter Benjamin, embora menos conhecido que esses seus colegas, Kracauer formou-se como arquiteto, mas abandonou a carreira e tornou-se, em 1921, o editor de cultura do prestigioso jornal alemão Frankfurter Zeitung. No periódico, que publicava textos dos intelectuais durante a República de Weimar, saíram, entre 1921 e 1931, 22 dos 24 textos presentes em O ornamento da massa. Em artigo para de Márcio Seligmann-Silva (leia aqui), professor da UNICAMP, está explicitada a relevância do livro: “Kracauer era um exímio leitor da sociedade e esta obra mostra como ele sabia, como poucos, escandir seus elementos insuspeitos e inconscientes a partir dos fenômenos aparentemente mais banais”.Já no prefácio do livro, Miriam Hansen, professora da Universidade de Chicago, ressalta a mudança de enfoque teórico de Kracauer: “Das grandes questões metafísicas da época para os fenômenos da vida cotidiana, para o efêmero, para espaços e mídias culturalmente marginais e desprezados, e para os rituais de uma cultura de massa emergente”. Nos primeiros textos, no capítulo “Introdução: geometria natural”, Kracauer revela-se um construtor de imagens: pinta uma tourada em “Garoto e touro”, desenha as ruelas, “serpentinas de papel amassadas”, de Marselha em “Dois planos” e mostra, ponto a ponto, a cidade de Paris em um passeio que começa a ser riscado nos faubourgs e passa para os bulevares do centro da cidade (“Análise de um mapa de cidade”).
Seguem artigos que tratam de fotografia, dança, best sellers, biografias, entre outros temas. Em “O ornamento da massa”, por exemplo, mostra a mudança do foco de interesse estético, do indivíduo para a massa, com as Tillergirls, companhia de teatro de revista americana que se apresentou em Berlim em 1929. Explica: “A massa organizada nesses movimentos vem das fábricas e dos escritórios; o princípio formal, segundo o qual é moldada, determina-a também na realidade. Se do horizonte do nosso mundo são subtraídos conteúdos significativos da realidade, a arte deve necessariamente trabalhar com os que restaram, pois uma representação estética é de fato tanto mais real quanto menos renuncia àquela realidade que se situa fora da esfera estética”. O capítulo denominado “Perspectivas” traz ensaios sobre autores consagrados como Georg Simmel, Walter Benjamin e Franz Kafka; a parte final do livro trata de cinema.

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